Fazendo as pazes com sua Criança interior

 

Será que como educadores podemos mostrar nossas vulnerabilidades e inseguranças? Afinal todos temos gatilhos emocionais que trazemos desde a infância, uns mais outro menos, mas todos temos, e isso irá refletirá diretamente na nossa forma de educar.

 Neste trecho do livro a coragem de ser imperfeito, a escritora Brené Brown descreve, que não há dúvida de que nosso comportamento, nossos pensamentos e nossos sentimentos estão tanto dentro de nós quanto são influenciados pelo ambiente. Mas quando se trata de sentimentos de amor, aceitação e valorização, somos estruturalmente moldados por nossa família de origem, pelo que escutamos, pelo que nos contam e, talvez o mais importante, pela maneira como vemos nossos pais se relacionarem com o mundo.   

Desta forma olhar nossa criança interior é de extrema importância para sermos educares mais plenos e afetivos.  Fui educada por uma mulher de personalidade extremamente forte, que criou quatro filhos sozinha e sem nenhuma rede de apoio. Por trabalhar em dois empregos, seu nível de irritação era bastante alto, o que não ajudava em uma criação com apego, mas sei que minha mãe fez o seu melhor e sou eternamente grata por sua garra e determinação, valores que carreguei em toda minha vida. Mas admito que nem sempre foi assim, precisei aprender a curar minha criança interior honrando minha criação e meus pais, mesmo que um deles tenha sido tolamente ausente na minha vida, os honro pelo fato de me derem a vida. Pensar desta forma, foi o que me libertou e me fez seguir em frente, me livrando de sentimentos que me travavam e que refletia diretamente na minha forma de educar.

Porém percebo muito da minha mãe em diversas atitudes, pego algumas vezes fazendo exatamente com meu filho o que mais criticava na minha mãe. Acredito que todos nos trazemos um pouco dos nossos pais em nós e isso irá impactar diretamente na nossa forma de educar. Até porque somos seres que necessitamos de conexão, somos seres gregários, nossa falta de atributos físicos naturais forçou o ser humano a viver em bando com seus pares a fim de sobreviver. E o que era uma necessidade, com o tempo tornou-se uma habilidade ao percebermos que somos mais eficientes quando trabalhamos em equipe. Daí parte nossa necessidade de sermos aceitos nos grupos os quais convivemos, seja ele o núcleo familiar ou profissional, lugares estes que são responsáveis pela maioria dos nossos gatilhos emocionais.

Um exemplo de como é formado um gatilho emocional  na infância são os famosos  “rótulos”, quem nunca foi chamado de algo que machucava profundamente, ainda mais quando partia de alguém que respeitávamos e admirávamos como: preguiçoso(a), mal-educado(a), mentiroso(a), maldoso(a), briguento (a), inseguro(a), bonzinho, etc., rótulos que podem nos atormentar até hoje, despertando gatilhos emocionais que nos faz explodir de forma desproporcional em ocasiões que para alguns seria algo corriqueiro, neste outro trecho do livro A coragem de ser imperfeito autora Brené Bown fala sobre ensinar para as crianças a diferença entre rotular a pessoa e o comportamento, ela cita um exemplo que aconteceu com sua filha Ellen; quando Ellen estava no jardim de infância, a professora dela me telefonou certa tarde e disse: “Agora entendi totalmente o que você faz.” Ao lhe perguntar a razão, ela me contou que naquela mesma semana tinha olhado para Ellen, que estava toda suja de tinta na aula de arte, e dito: “Ellen, você é uma sujinha!” Minha filha ficou muito séria e reagiu: “Eu posso ter feito sujeira, mas eu não sou sujinha.”

Ao rotularmos as crianças tiramos dela qualquer possiblidade de mudança, ao focarmos em seu comportamento damos a chance de corrigir, rótulos, comparação e humilhação despertam culpa e vergonha, estas experiências afetarão a autoestima e a maneira como as crianças se enxergam.

   Por isso te convido a olhar para sua criança interior, perceber quais as magoas e feridas que podem estar abertas até hoje, pois ninguém pode afirmar que cuida do bem-estar de crianças se antes não estiver bem emocionalmente. Precisamos sair desse lugar de reações impensadas, baseadas na mágoa e na reatividade para que possamos educar sem causar tantos danos e traumas, sendo realmente nos os adultos da relação e permitindo que as crianças sejam apenas criança, respeitando sua imaturidade e inseguranças.

 Acredito que a maioria de nós foi educado através de ameaças e punições, mas agora temos a chance de fazermos diferente e educarmos de forma respeitosa sem perder a autoridade, a frase da escritora Lya Luft resume bem o que quero expressar, “A infância é o chão sobre o qual caminharemos o resto de nossos dias.”  

Na plataforma você encontrará um módulo inteiro sobre autocuidado, porém deixo claro que se necessário, sou a favor da psicoterapia, para casos em que a criança interior está profundamente ferida, o pode comprometer seriamente nossa saúde mental e bem-estar.  

Falando um pouco mais sobre como observar a criança interior, ficar no momento presente e prestar atenção nas emoções e o que tira completamente sua paz mesmo, pode ser um caminho para o autoconhecimento, o que pode não ser simples para a maioria que vive no “piloto automático “o que causa um alto nível de ansiedade e irritação.

Até hoje não conheci nenhum(a)educador(a) perfeito(a), por isso peço para você não se julgar e não julgar outros educadores, acredito que cada um está fazendo seu melhor e que apenas esteja reproduzindo o que foi ensinado pelos nossos pais e professores, sem nos esquecermos que eles também apenas reproduziram o que lhes ensinaram.

Está em nossas mãos a oportunidade de quebrar o ciclo da educação através da vergonha e da culpa e se abrir para uma nova forma de educar. Para isso permita-se que sua criança interior fique mais amostra, abrace-a com força e carinho, aceitando suas vulnerabilidades e conflitos, permitindo-se sorrir mais, brincar mais, cantar mais, deixe fluir seu lado criativo e afetuoso e quem sabe realizar antigos sonhos que estão guardados, isso não fará de você uma pessoa menos adulta nem menos responsável, mas poderá te libertar da necessidade de ser um adulto autoritário para impor respeito, e te permitir uma vida mais feliz e mais leal ao seu propósito e a sua verdade. Aprender a se conectar com o que você realmente você necessita, pode transformar sua forma de educar. Lembre-se o que acontece na infância não fica na infância, permanece para a vida toda!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O desenvolvimento da Psicomotricidade através da prática de yoga na infância